Publico, com alegria no coração pela coragem e lucidez, este excelente texto escrito pelo irmão Wilson Muniz.
Estive
pensando nos acontecimentos da semana passada. Chorei com a morte de tantos
jovens em Santa Maria; assassinados pela chama do lucro fácil que queima as
leis e pela fumaça da corrupção que tudo encobre até a próxima tragédia.
Revoltei-me pelo enterro da decência em Brasília, sepultada por um senado
indigno, corrupto, falido. Na capital, a decência foi apenas enterrada, já que
estava morta, e putrefata, há muito tempo. Se é que um dia por lá tenha vivido.
Nos pampas, a morte violenta prostrou familiares e amigos; no planalto central,
o senado-quadrilha colocou de joelhos uma nação.
Após os
acontecimentos, ouviu-se a ladainha dos poderosos tentando explicar o
inexplicável e justificar o injustificável. Ladainha que soa como uma melodia
fúnebre saída de uma macabra caixinha de música, que ressoa as mesmas tristes
notas a cada vez que é aberta. Essa cantilena é ainda mais antiga que as
canções que embalaram meus revolucionários sonhos juvenis de mudar o mundo.
Parece que isso foi há tanto tempo! Lembrei-me de canções e citações e
misturei-as com minhas próprias reflexões, o que fez transbordar a minha
insatisfação. Quase podia ouvir Caetano Veloso: "Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede, e também de incêndio, são tantas vezes, gestos naturais... Será que nada faremos senão confirmar a incompetência a América católica, latina de todas as crenças, que sempre precisará de ridículos tiranos...”
Desde sempre, somos governados por ridículos tiranos, dentre os quais, os de agora parecem ser os maiores expoentes. Será que nada faremos, será?
Martin Luther king Junior, discursou:
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... o que me preocupa é o silêncio dos bons.”
Bons? Aqueles
que se calam, diante de tanta injustiça, podem realmente ser chamados bons?
No início do
século XX o humorista norte-americano O. Henry, referindo-se a Honduras, cunhou
o termo República das bananas. Posteriormente, isso passou a ser
referência comum aos países latino-americanos, como se a única coisa de valor
existente por aqui fosse a saborosa fruta de origem africana. Não tenho certeza
se, substantivamente, somos uma República, mas estou convicto de que,
adjetivamente, merecemos a pecha de bananas. E não é por causa da fruta
abundante, mas sim pelo nosso servil comportamento. Nossos governantes têm nos dirigido com a velha tática do “pão e circo”. E nós, agora de maioria da classe média, permanecemos rindo da nossa própria desgraça. É como se os políticos tirassem nossos anéis e exigissem nossa gratidão por não arrancarem nossos dedos. E pior, nós agradecemos! Um pouco de comida, um pouco de emprego, nada de dignidade. Os Titãs já repetiam:
“Bebida é água, comida é pasto! Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?... A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte.”
Procuramos de fato uma saída, ou isso é apenas uma letra de música antiga?
Talvez você tenha reservas a respeito dos autores por mim citados, eu também tenho as minhas. Ou então, você não concorde com a interpretação que eu extraí de seus textos. Considerando isso, recorro ao Mestre dos mestres, o meu Mestre Jesus, que disse:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”
Ao falar daqueles que têm fome e sede, Jesus não está se referindo àqueles que, já saciados, desejam uma sobremesa e um cafezinho. Ele fala de alguém que luta por algo do qual depende a sua própria sobrevivência; de um anseio profundo. Logo, se ainda não vemos a justiça, é porque dela não temos tido fome e sede. O nosso desejo tem sido apenas retórico e não objetivo, prático. Não temos vivido aquilo que dizemos acreditar.
Nossos políticos têm uma insaciável fome de bananas, e nós os temos suprido fartamente através da nossa omissão.
E você, tem sede de quê?
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