sábado, 2 de fevereiro de 2013

PÂNICO DE NORA, FOBIA DE SOGRA (Texto de autoria de Ivone Boechat)



Houve grande fome e um homem chamado Elimeleque passou a peregrinar no país de Moabe, com sua mulher, Noemi, e dois filhos. Anos mais tarde, Noemi ficou viúva e seus filhos casaram-se com Orfa e Rute. Todavia, mais uma vez, a morte bateu na porta deste lar e os dois maridos morreram. Ficaram, agora, três viúvas.
“Disse Noemi às suas noras: Ide, voltai cada uma para a casa de sua mãe e o Senhor use convosco de benevolência”. Ruth 1:8
Respondeu Rute: “Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque onde tu fores, irei eu: o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus. Onde quer que morreres,morrerei eu e ali serei sepultada. Assim me faça o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti”. Rute 1:16
Será que a Bíblia registrou essa história fantástica para provar às futuras gerações que a relação sogra-nora pode dar certo ? Que fenômeno é este que inspirou tão grande amor entre nora e sogra? Hoje, seria impossível isto acontecer?
As relações sogra-nora devem ser entendidas como processo de crescimento mútuo. A sogra, mãe e mito do filho, vai dando lugar à construção do monumento-nora que se incorpora à construção do lar. A nora trabalha pela derrubada do mito e esta obra deve ser respeitada, porque é cansativa e dolorosa.
Derrubar o mito não significa derrubar a pessoa. É bem diferente. Isto mal entendido, é causa de conflito, porque o espelho do filho é a mãe que também trabalha na ampliação do espelho para comportar rostos e imagens que vão se aderindo à família.
Com boa educação, nora e sogra alternam-se no espaço, com respeito, sem interferências e arranhões. O coração tem departamentos bem definidos para cada identidade do amor. É preciso educar-se para compreender a dimensão e o limite, a função e as características de cada tipo de amor.
Analisando o comportamento da família, no decorrer das eras, nota-se a importância da mãe como símbolo de sustentação social. Essa mãe vem a ser avó e sogra, figuras imponentes no seio do lar. Daí, a dificuldade inicial para que a nora atraia a notoriedade e o prestígio singular que lhe impõem a condição de recém chegada.
Se cada pessoa esforçar-se pela feliz convivência, entendendo como isto fortalece as várias manifestações do afeto, será bem diferente o comportamento da sobra e da nora. Uma não substitui a outra, muito pelo contrário, cada qual ama e deixa-se amar no próprio território. São galáxias distintas.
É importante sublinhar que o espaço de cada um na família é conquistado, como em qualquer lugar, através de obras, de participação, de competência e tempo. Chegar primeiro significa conquistas anteriores e posse de algo.
Ninguém espere que um grande amor desabroche, como nos contos de fada, na primeira aproximação. Pode até ser que aconteça o amor à primeira vista entre nora e sogra. Quem se casa apaixonado é o filho. O amor dos outros membros da família será construído diariamente, numa caminhada sinalizada pelo respeito. Sem preconceitos e discriminações, a viagem torna-se mais suave.
Apesar de tantos séculos passados, Noemi e Rute, sogra e nora, estavam prontas para viver, em profundidade, a relação de aceitação mútua. Deixaram, portanto, ao mundo a mais bela lição de harmonia dentro de casa.

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