“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...Sobre o que é o amor,
sobre o que eu nem sei que eu sou...”
Talvez agora,
você já tenha torcido o nariz por eu ter citado um personagem tão controverso.
Ou esteja feliz porque esta é a frase que você tem adotado como o lema de sua vida.
Tanto em um, como em outro caso, vamos com calma! Descartes disse: “Penso, logo existo.” Então, pensemos a
respeito:
A tese contida
na canção, quando vista sob a perspectiva adequada, é muito interessante. Ele
fala de mudança de mente, metanoia. O autor convida-nos a abandonarmos a
arrogância e deixarmo-nos transformar, sem, apressadamente, colocarmos um ponto
final em nossa evolução, como quem já sabe tudo, como quem já está pronto. O problema
não está no enunciado da ideia, mas na interpretação que se faz dela. Talvez
essa errônea interpretação tenha origem no próprio estilo de vida do autor,
talvez... Interpreta-se a palavra metamorfose muito mais no sentido de
camuflagem, mudança circunstancial e transitória, do que no sentido de
transformação essencial e permanente. Senão vejamos: Quem se camufla, ou
mimetiza, o faz a fim de atender às demandas momentâneas de sobrevivência, quer
seja para levar vantagem, quer seja para não sofrer prejuízo. Em suma, a
camuflagem é um meio utilizado para sobrevivência em um meio hostil. Tão logo a
ameaça se vá, ou a conveniência indique, volta-se ao estado anterior, ou a
outro estado qualquer que se apresente útil. As mudanças são utilitárias, mas
não são permanentes. Quero dizer com isso que, muitas vezes, abre-se mão de
princípios em troca de uma sobrevivência menos onerosa. Ou não se reconhece a
existência de princípios fundamentais, já que, segundo a incorreta
interpretação da tese contida na canção, nada é definitivo, tudo está em
constante transformação. Se, nós ainda não sabemos quem somos, então, não
podemos chegar à conclusão alguma. Nada é absoluto, tudo é relativo. Essa tem sido
uma boa desculpa, usada para que compromissos não sejam assumidos e vínculos
não sejam criados.
Eu disse que a
tese da canção é muito interessante quando vista da perspectiva adequada. Como
cristão, eu não posso deixar de usar a Bíblia como a lente mais indicada para
examinar o pensamento humano. No versículo dois, do capítulo 12, da carta aos
Romanos, Paulo escreve:
“E não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento (metanoia), para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.”
Qualquer
semelhança entre a música de Raul Seixas e a carta de Paulo de Tarso não é mera
coincidência. Ambas nasceram do desejo, inerente ao ser humano, de ser feliz, bem
aventurado, bem sucedido, de experimentar o Divino. A experiência transcendental,
ainda que haja entendimentos diversos sobre o que seja isso, é essencial para
dar sentido à vida. Por isso, tanto o roqueiro, que morreu mergulhado nas
drogas, quanto o pregador, que morreu anunciando Jesus, tinham o mesmo anseio.
O que faz toda
a diferença é a compreensão do que seja metamorfose. Diferentemente da camuflagem,
já abordada aqui, a metamorfose é uma mudança definitiva, que não admite
retrocessos. É uma mudança de forma
e conteúdo a fim de alcançar um objetivo final, viver um destino, alcançar uma meta. É um aperfeiçoamento para melhor
desempenho, algo que acontece mudando-se o que se deve mudar. Independentemente
do ambiente ao redor, dos predadores presentes, das conveniências, ou da falta
delas. Aquele que sofre a metamorfose paga o preço, mesmo tendo que deixar o
velho corpo, mudar hábitos alimentares, trocar de endereço. Para alcançar a
meta, ou seja, o sentido da vida, a mudança não é opcional. É fundamental.
Então, se
metamorfose é aperfeiçoamento, como se pode alcançá-la? Para encontrarmos a
resposta, voltemos à Bíblia. Jesus, citado por Paulo, em sua primeira carta aos
Coríntios, capítulo 12:9, disse:
“A minha graça te basta, pois o meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza.”
Na primeira
carta de Pedro, capítulo 5:10, está escrito:
“E o Deus de toda a graça, que em Cristo
Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele
mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.”
Logo,
compreende-se que aperfeiçoamento não é algo que se faça autonomamente, mas sim
o resultado obtido quando a pessoa reconhece as próprias limitações e submete-se
ao poder de Deus.
Sendo assim,
se você é cristão, não desconsidere uma frase inteligente, mesmo não sendo
mencionada na Bíblia ou pronunciada por um irmão. Pense antes. E, se você não é
cristão, não descarte a palavra bíblica imaginando que, entre os fiéis, inexista
vida inteligente. Reflita primeiro também. Sigamos todos em frente, caminhando
e sendo aperfeiçoados.
Submetamo-nos
à verdadeira metamorfose.
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