quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

METAMORFOSE OU CAMUFLAGEM


 

Tenho o prazer de publicar mais um artigo escrito pelo irmão Wilson Muniz. Texto inteligente e que busca fazer o seu  leitor pensar.
 

             Vivemos tempos de transformações constantes. Algumas são facultativas, outras são compulsórias. O mundo muda constantemente, e quem não acompanha o ritmo é deixado para trás. Na verdade, o mundo sempre mudou. A diferença, nos dias de hoje, é a velocidade das mudanças. Assim sendo, precisamos decidir, rapidamente, se seguimos em frente, ou se ficamos onde estamos.  Quanto a isso, Raul Seixas já dizia:

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...Sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei que eu sou...”

Talvez agora, você já tenha torcido o nariz por eu ter citado um personagem tão controverso. Ou esteja feliz porque esta é a frase que você tem adotado como o lema de sua vida. Tanto em um, como em outro caso, vamos com calma! Descartes disse: “Penso, logo existo.” Então, pensemos a respeito:

A tese contida na canção, quando vista sob a perspectiva adequada, é muito interessante. Ele fala de mudança de mente, metanoia. O autor convida-nos a abandonarmos a arrogância e deixarmo-nos transformar, sem, apressadamente, colocarmos um ponto final em nossa evolução, como quem já sabe tudo, como quem já está pronto. O problema não está no enunciado da ideia, mas na interpretação que se faz dela. Talvez essa errônea interpretação tenha origem no próprio estilo de vida do autor, talvez... Interpreta-se a palavra metamorfose muito mais no sentido de camuflagem, mudança circunstancial e transitória, do que no sentido de transformação essencial e permanente. Senão vejamos: Quem se camufla, ou mimetiza, o faz a fim de atender às demandas momentâneas de sobrevivência, quer seja para levar vantagem, quer seja para não sofrer prejuízo. Em suma, a camuflagem é um meio utilizado para sobrevivência em um meio hostil. Tão logo a ameaça se vá, ou a conveniência indique, volta-se ao estado anterior, ou a outro estado qualquer que se apresente útil. As mudanças são utilitárias, mas não são permanentes. Quero dizer com isso que, muitas vezes, abre-se mão de princípios em troca de uma sobrevivência menos onerosa. Ou não se reconhece a existência de princípios fundamentais, já que, segundo a incorreta interpretação da tese contida na canção, nada é definitivo, tudo está em constante transformação. Se, nós ainda não sabemos quem somos, então, não podemos chegar à conclusão alguma. Nada é absoluto, tudo é relativo. Essa tem sido uma boa desculpa, usada para que compromissos não sejam assumidos e vínculos não sejam criados.

Eu disse que a tese da canção é muito interessante quando vista da perspectiva adequada. Como cristão, eu não posso deixar de usar a Bíblia como a lente mais indicada para examinar o pensamento humano. No versículo dois, do capítulo 12, da carta aos Romanos, Paulo escreve:

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento (metanoia), para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Qualquer semelhança entre a música de Raul Seixas e a carta de Paulo de Tarso não é mera coincidência. Ambas nasceram do desejo, inerente ao ser humano, de ser feliz, bem aventurado, bem sucedido, de experimentar o Divino. A experiência transcendental, ainda que haja entendimentos diversos sobre o que seja isso, é essencial para dar sentido à vida. Por isso, tanto o roqueiro, que morreu mergulhado nas drogas, quanto o pregador, que morreu anunciando Jesus, tinham o mesmo anseio.

O que faz toda a diferença é a compreensão do que seja metamorfose. Diferentemente da camuflagem, já abordada aqui, a metamorfose é uma mudança definitiva, que não admite retrocessos. É uma mudança de forma e conteúdo a fim de alcançar um objetivo final, viver um destino, alcançar uma meta. É um aperfeiçoamento para melhor desempenho, algo que acontece mudando-se o que se deve mudar. Independentemente do ambiente ao redor, dos predadores presentes, das conveniências, ou da falta delas. Aquele que sofre a metamorfose paga o preço, mesmo tendo que deixar o velho corpo, mudar hábitos alimentares, trocar de endereço. Para alcançar a meta, ou seja, o sentido da vida, a mudança não é opcional. É fundamental.

Então, se metamorfose é aperfeiçoamento, como se pode alcançá-la? Para encontrarmos a resposta, voltemos à Bíblia. Jesus, citado por Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 12:9, disse:

“A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”

Na primeira carta de Pedro, capítulo 5:10, está escrito:

“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.”

Logo, compreende-se que aperfeiçoamento não é algo que se faça autonomamente, mas sim o resultado obtido quando a pessoa reconhece as próprias limitações e submete-se ao poder de Deus.

Sendo assim, se você é cristão, não desconsidere uma frase inteligente, mesmo não sendo mencionada na Bíblia ou pronunciada por um irmão. Pense antes. E, se você não é cristão, não descarte a palavra bíblica imaginando que, entre os fiéis, inexista vida inteligente. Reflita primeiro também. Sigamos todos em frente, caminhando e sendo aperfeiçoados.

Submetamo-nos à verdadeira metamorfose.

 

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