Sabemos porque fazemos o mal. Na verdade, nós
justificamos sua prática, como um recurso para fugirmos à admissão da
inadmissível ideia de que somos maus. Na verdade, para fazer o mal não
precisamos empreender esforço algum. É, digamos assim, natural em nós.
Para falar bem do outro, precisamos estabelecer o
bem-dizer como uma meta.
Para deixar um vício que dizemos abominar,
precisamos de um desejo profundo, uma decisão radical e uma disciplina de
caserna.
Para parar de odiar um ofensor, precisamos nos
negar a nós mesmos, em nossa pretensão por vingança, a que damos o eufemístico
nome de justiça.
Para ajudar o próximo, precisamos pensar no prêmio,
seja o aplauso dos homens ou o sorriso de Deus.
E quando ajudamos o próximo, que é a melhor coisa
que fazemos, o mal pode estar presente. Para ajudar o outro, dizemos a nós
mesmos que lhe somos superiores e nos divertimos. Para ajudar o outro,
reduzimos o outro a um número em nossas estatísticas. Para ajudar o outro,
esperamos que ele se humilhe em seu pedido de socorro. Para ajudar o outro,
pisamos nos outros.
O mal, portanto, superintende as nossas motivações.
São as nossas motivações que precisamos vigiar.
Esta constante vigilância nos fortalece no périplo de começar bem e continuar
bem, ao nos ajudar o ver no espelho quem somos nós. Sem esta percepção, a
humildade se torna um disfarce, a disponibilidade se transforma numa máscara, a
bondade busca o reconhecimento, o amor se alimenta do resultado obtido.
Felizmente podemos superintender as nossas
motivações.
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